Dienstag, März 29

Ah. Eu fui embora.

Lagriminhas (de sangue) vindo me visitar agora, que o dia acabou, que a ficha caiu, que a próxima consulta não vem. Eu saí da análise, pessoas.

Eu, Fernanda, tenho dezoito anos e faço terapia há quatro, uh-hu. Poxa, eu vejo o doutor Adylson toda semana antes mesmo de ter um blog. Caraca, mesmo que exista um leitor desde o desembucha.com, mesmo que exista essa pessoa que lê (quase) tudo o que eu escrevo há tanto tempo - bum, ela não me conhece há tanto tempo. O doutor Adylson é mais antigo na minha vida.

Saí por questões financeiras mesmo - estamos ficando pobres. Corte de gastos aqui em casa e ok, eu resolvi abrir mão dessa vez. Deu medo e tal, mas eu tinha que abrir mão da única coisa extra em algum momento, né. Saí. E contei pra ele hoje que eu tinha que sair.

Doutor Adylson estava comigo durante o meu primeiro amor, a minha primeira decepção, o meu primeiro beijo, o meu primeiro namorado, a minha primeira transa. Ele ouviu quando eu decidi o que ia fazer pro resto da vida, todo dia que eu briguei com o meu pai, ele tava por perto todo eu-não-sou-mais-criança que eu gritei (mesmo sem muita coragem). Porra, ele tava perto até quando eu ganhei o meu primeiro um real por mérito próprio.

Eu aprendi muita coisa. O nome de várias espécies de orquídeas diferentes, a crucial diferença entre as violetas claras e escuras e o modo de tratá-las, como me portar diante pessoas que não acreditam muito em mim. Aprendi a gostar de mim, mesmo sendo essa Fernanda brega que eu sou às-vezes-quase-sempre.

Não sei como vai ser sem ele e estou com medo, assumo. Mas ele foi tão anjinho na hora de dizer que eu já podia ir sozinha, ele foi tão tão. Hoje eu não chorei lá. Antes de sair de casa me prometi uma coisa menos melodramática, pra ele atender o telefone daqui a um tempo, quando eu puder voltar.

@ 23:53